quinta-feira, 9 de dezembro de 2021

Calcinha Listrada

 

Simplesmente bela!

 


Deparo-me com uma pequena flor, em meio ao cimento da calçada, que separa o muro de minha casa com a rua.

Ela está tão sozinha como me sinto nos últimos tempos.

Uma flor que mostra sua beleza, independente da simplicidade do local.

O que essa flor gostaria de dizer aos transeuntes que por ali passam?

Fiquei horas refletindo sobre sua beleza e simplicidade, mas permanecia ali firme, intacta em um local onde ninguém se atreveria a permanecer por algumas horas, quem diria uma vida?

Como resistir durante um sol escaldante, chuvas torrenciais, que não avisam o momento de sua chegada?

Fiquei horas contemplando essa flor, queria descobrir a mensagem que estava querendo enviar aos contemplantes de sua beleza.

Escolheste a calçada de minha casa, onde tudo é humilde, desde o muro sem reboco, uma calçada muito mal acabada.

Ela estava ali firme e bela.

Sentia como uma deusa dessa rua. Sua beleza era contagiante que passei horas a contemplar, esquecendo nesse momento minha situação de miséria.

Era isso que ela queria me passar, a beleza não está no luxo, mas na simplicidade das coisas.

Tudo se torna belo, quando a alma se eleva na beleza de uma flor!

Inêz Lourenço

Duas mulheres em uma só


 

Bela e formosa donzela,

O casamento a transformou,

De dia, prendas do lar,

Na noite, mariposa do bar.

 

Seus afazeres   do dia,

Tinha muita determinação,

Carinho e muito cuidado,

Demonstrava sua afeição.

 

Seu esposo dedicado,

No trabalho concentrado,

Nem imaginava na esposa,

A grande transformação.

 

Os dias se transcorriam,

Até que um amigo falou:

De dia sua esposa é dama,

A noite é a mariposa na lama.

 

Seu coração apertou, não podia acreditar,

Resolveu tirar a limpo, um disfarce elaborou,

No encontro com a mariposa,

A sua esposa, encontrou.

 

Os dias foram passando,

E seu amor aumentou,

Pela esposa meiga e bela,

Do seu amor, nada sobrou.

 

Enfeitiçado de amor,

Por essa dama malvada,

Em uma briga, ele entrou,

Mas quem levou a facada

Foi a mariposa da noite.

Que na calçada ficou.

 

Na triste lápide, os dizeres:

 “Descanse em paz, amada lady,

seu esposo, por ti chora”,

Enquanto na terra fria,

 a mariposa da noite,

permaneceu na poesia!

Inêz Lourenço

Cabelos grisalhos

 

               

Olhando para o espelho, pude perceber o quão rápido passou a vida,

Da pele aveludada, só restou saudades, olhos arregalados pelo espanto,

Não por ver outra pessoa no espelho, reconheço os meus traços.

Traços moldados pelo tempo, pelas lutas, e pelas esperanças.

Vejo nos olhos a alegria de um dever cumprido, de sonhos realizados,

De filhos criados com amor e carinho, dos netos abençoados.

A vida passou como magia, não perdi tempo com decepções!

Envelheci sem medo e com esperança de uma donzela.

Amada e independente em minhas realizações,

Sem medo de errar ou acertar a cada passo dado.

Aventurei-me em todos os momentos de insanidade juvenil,

Atualmente sou meio senil, mas sem medo de prosseguir em meus atos,

Ainda tenho muito para viver, quero a independência por completa,

Ninguém me dizendo que sou velha para isso ou aquilo, nasci livre!

Como um pássaro fora da gaiola, como uma águia desbravando as alturas,

Quero olhar para o céu e dizer: Vivi como uma deusa!

Na imensidão do universo, posso dizer:

Tive o mundo em minhas mãos, pude fazer as escolhas de minha vida!

Em nenhum momento tive medo das dificuldades impostas,

 Elas me moldaram para uma vida de sabedoria e vitórias.

Cada ruga em meu rosto, trás uma história.

As mãos enrugadas, são marcas de uma vida com muitas lutas!

Se morrer agora, estou feliz! Vivi como se deve viver um ser humano,

Com derrotas; mas muitas vitórias conquistadas,

Morrer, dormir ou sonhar, quem sabe?

                    Inêz Lourenço