terça-feira, 21 de fevereiro de 2023

 

          Conto: O alienígena e a Bruxa

A família Rowena, escolhera a pequena cidade de Brotas, interior do Estado de São Paulo para fixar sua morada terrena. Em uma das casas em estilo colonial situado as margens do rio Jacaré Pepira.

Nesse local existiam muitos casarões coloniais, época em que os coronéis eram donos da cidade. Próximo a ponte que separava a cidade, a família se reunia feliz, comemorando o nascimento de Diana, nome de uma deusa escolhida pelas Wiccas, mas a bruxaria nem sempre nos dá aquilo que pedimos. Filha de bruxos, outros os chamavam de feiticeiros, teria tudo ao seu alcance, ou aquilo que almejasse! A família não contava com a participação de um jovem alienígena apaixonado por bruxas ou feiticeiras, fazer parte de suas vidas.

Diana crescia forte e saudável em meio a sociedade, ninguém sabia de sua origem de bruxaria, exceto sua família que faziam parte do Coven.

 Na mudança da Lua para o quarto Crescente era feito o ritual de crescimento de Diana, eles comemoravam cada fase da Lua, a cada objetivo escolhido para a vida da pequena bruxinha.

Os presentes também eram especiais, a espada tinha de ser uma lâmina movida através de ferro vulcânico, aquecida a lâmina com o fogo, mergulhada na água, logo em seguida cravada na terra, assim estava completo o círculo, para que Diana usasse com sabedoria, nela continha os quatros elementos essenciais da natureza.

A primeira reunião para a iniciação de Diana, foi escolhida com carinho uma corda vermelha com tecido especial junto da venda que seria usada em seus olhos.

          Tudo estava pronto para a cerimônia da pequena feiticeira! Como tradição do horário escolhido, “meia noite”, em Lua cheia.

          O ritual compunha de um sacerdote, cavaleiro, sacerdotisa e a iniciante.

          Deram inicio a cerimônia com olhos vendados da iniciante e totalmente nua, pois suas vestes seriam a natureza, passando a corda de três metros sobre o braço esquerdo da iniciante, atrás de suas costas, um único nó é dado no ponto médio da corda, o braço direito da iniciante é posicionado pulso contra pulso, sobre o pulso esquerdo é dado outro nó, formando uma base triângulo com a cabeça.

         A cerimônia de iniciação ao Coven prosseguia com a luz do luar, enquanto alguns passos dali o jovem Khalil alto, loiro de olhos azuis, assistia a tudo sem perder um movimento sequer.

          Embora nada fugisse dos olhos daqueles bruxos, aquele jovem continuava invisível aos olhos de todos, apenas quem ele quisesse, perceberia sua presença.

          Já era madrugada quando tudo terminou, Diana colocou um vestido branco longo, confeccionado especialmente para usar após o termino da cerimônia. Os membros do Coven retornavam para suas residências, apenas a jovem iniciada queria dar uma volta sozinha pela cidade, queria sentir o ar da madruga, em meio ao aroma dos perfumes que exalavam das flores, sentindo seu vestido branco e longo esvoaçar ao vento.

        Caminhava absorta em seus pensamentos, agora já se considerava uma bruxa, tinha a sua espada, seu punhal e o pingente da família, (uma chave que a transportaria através do tempo, em outras dimensões.)

        Sentou no banco da praça observando ao seu redor, o vazio e o silêncio da cidade naquela hora da madrugada, não percebeu quando o jovem Khalil se aproximou com sutileza, questionando uma jovem tão bela, sozinha em uma praça solitária.

        Pega de surpresa, encabulada no que responder ao rapaz, pensou rápido e disse que saíra de uma festa de aniversário de uma amiga, como mora perto, não quis incomodar as pessoas para acompanhá-la até sua casa.

       Gentil, Khalil sabia da razão verdadeira, mas fez de conta que acreditou, sentou ao lado de Diana e começaram a conversar sobre vários assuntos.

         Ela ficou encantada pela beleza e sutileza do rapaz, ficou imaginando de onde viera um príncipe raro como aquele! Khalil explicou que não vive na cidade, aparece de vez em quando em missão especial, mas não disse de onde viera, deixando Diana pensativa.

         Ficaram algum tempo conversando sobre muitos assuntos, nem perceberam o tempo passar, era como se conhecessem há tempos, no momento da despedida, seus lábios se uniram com um beijo nunca imaginado, Diana se sentiu no paraíso,  sentindo o orgasmo através de um beijo, como isso seria possível? Assim era selado o início de um romance tumultuado.

          Diana voltou para casa indo direto ao seu quarto, aquele jovem não saia de sua mente, parecia um sonho, mas o beijo ainda trazia o sabor e uma experiência jamais vivida, uma paixão que acabara de nascer.

         Os dias passavam e Diana não conseguia mais encontrar com aquele jovem, sentia falta da conversa, do beijo, da beleza estonteante que ele apresentava, chegando mesmo a imaginar que tudo não passara de uma alucinação, mas o gosto do beijo ficara em sua boca dispensando qualquer dúvida.

       Na cidade começou aparecer boatos de monstros levando pessoas em uma nave extraterrestre, as pessoas eram levadas e trazidas de volta em alguns dias, ficando sem memórias para uma explicação.

        Diana dizia que tudo é comentários de cidade pequena, as pessoas não tem o que fazer, inventam histórias fazendo o tempo passar mais rápido.

        Em seu íntimo Diana sabia da existência de seres diferentes e que poderiam praticar muita maldade, mas preferia ignorar a conversa, fazendo as pessoas acreditarem em sua afirmação de que seres extraterrestres, não existem.

       O tempo ia passando e Diana começou a sentir algo diferente, uma presença estranha estava sempre junto dela, não conseguia ver, mas sentia algo ao seu lado. Tentou usar o poder de bruxa, qual nada, era algo inexplicável.

       Resolveu conversar com seus pais, dizer o que estava acontecendo, fazia exatamente um mês de seu encontro com o jovem misterioso e agora que ela começou a sentir uma presença estranha, sentia enjoada com frequência, seu corpo estava modificando.

        Seus pais a levaram em um médico, este constatou que ela estava grávida, fez os exames e ficou comprovada uma gravidez... Mas como? Ela era uma virgem, nunca praticou ato sexual com homem, como isso seria possível? Não poderia entender, nem mesmo sendo uma bruxa poderosa!

         Ela tinha apenas 15 anos, e a única vez que se interessou por alguém, fora aquele jovem da noite de iniciação. Seria aquele beijo? Mas como?

         Ficou mais intrigada ainda, precisava de respostas, mas onde encontrar?

         Voltou á praça pela madrugada, esperava que o seu príncipe aparecesse e desse uma explicação.

         Não demorou muito, apareceu seu lindo príncipe. Ele estava diferente, já não era tão belo como no primeiro encontro, seria a decepção? Queria explicação de sua gravidez...

         — Diana, você está magoada e com razão, mas eu vim para explicar que não sou da Terra, vim do Planeta Orion, ele está com problemas de reflorestamento, as nossas árvores já não nascem mais, precisamos do seu planeta para adquirir mudas e reflorestar o nosso planeta.

        Quanto a sua gravidez, eu fiquei sabendo, mesmo você não me vendo, estou sempre ao seu lado quando me é possível. Também fiquei triste por você, embora você não acredite, eu a amo muito, faz um bom tempo que venho observando você de longe. Vou tentar te explicar a gravidez.

        O meu povo se reproduz através do beijo, não imaginei você fértil justamente naquele dia, vou assumir o nosso filho, se quiser poderá morar conosco, lá é igual aqui, apenas alguns seres são diferentes, estes são os que nos servem.

        Diana estava perplexa no que ouvira, não poderia continuar com a gravidez, pensou no momento em livrar-se daquele ser alienígena, mas antes de completar o seu pensamento Khalil lhe disse que seria impossível ela abortar, pois eles possuíam defesas contra qualquer tipo de retirada, ela poderia morrer, mas o filho continuaria.

        — Então estou condenada a ser mãe de um alienígena?

        —Você me achou lindo, o nosso filho poderá ser igual a mim, esqueci em dizer a você, será um menino, já sabemos o sexo do nosso filho.

         Diana ficou pensativa, não estava preparada para ser mãe, foi apenas um encontro, como isso seria possível? Queria morrer... Aos prantos Khalil a segurou em seus braços tentando amenizar a dor que sua amada estava sentindo, tentava imaginar o quanto seria difícil para ela essa realidade!

        Diana se despediu de Khalil, estava arrasada com os fatos que acabara de saber, como contar aos pais tudo o que estava acontecendo?

        Era um fato inacreditável, mas precisava de coragem para esclarecer com seus pais.

      —Mãe, chame o papai, preciso conversar com os dois e esclarecer todo o enigma que está envolvendo a minha vida.

       Vocês sempre me protegeram de tudo, sabia que como bruxa, ninguém da terra poderia me fazer mal. Realmente vocês estavam certos, agora estou em um dilema construído por um alienígena, estou grávida de um ser extraterrestre, não posso abortar, esse ser carrega defesa própria, a minha espada, o meu pingente e o meu punhal de nada serve contra esses seres. Vou ter o meu filho. Se ele for parecido com o pai, ninguém vai notar, pois é lindo e inteligente, parece um ser humano normal.

        Após a conversa, seus pais resolveram dar apoio a filha, não tinha como alterar a situação, começaram com os preparativos de enxoval do bebê.

        Aos três meses de gravidez, nasceu o seu filho, não era diferente dos humanos, apenas o crescimento era assustador, com um ano parecia uma criança de cinco.

        Diana deu o nome de Paul, crescia com todas as características do pai, um lindo garoto.

        Com o tempo, Diana percebeu a razão de seu filho ter vindo a Terra, uma criança que veio para lutar pela  preservação da natureza, não comia carne, adorava os animais, conseguia  se comunicar com os seres da natureza, herdou o lado bruxa da mãe e alienígena do pai, este sempre estava presente, ajudando a construir uma terra melhor.

         Outros alienígenas chegaram, monstros invadiram a Terra para fazer dos humanos seus escravos, mas graças a Khalil e seu povo, conseguiram salvar o planeta das mãos desses bárbaros.

          —Pai como fazer para que a Terra não seja invadida por monstros extraterrestre?

        —Filho, vamos ter que ficar atentos, pois a Terra é um planeta onde todos querem morar, na Terra o ar é puro, a água é potável, a vegetação é variável, tem diversas espécies de animais.

        O que precisa ser feito é trabalhar com o ser humano, muitos destrói tudo  de bom que a Terra possui, são seres humanos egoístas, só pensam em dinheiro e poder, esquecem que o mais belo poder vem da pureza da alma, e o dinheiro é importante para dar ao ser humano uma vida de abundância e conforto, mas ao partir desse corpo, vão para  o outro  universo, sem poder levar nada. Os terrestres acham que a vida acaba quando deixam esse corpo, estão enganados! O Universo é extenso e existe um local para cada ser aprimorar seu conhecimento. Apenas é feito uma troca de corpos, a alma é eterna, está sempre em evolução.

         A sua evolução depende da vida em que se pratica em cada local do Universo, são muitas moradas. Esses monstros com o qual lutamos, são seres em início de evolução.

         Nessa guerra contra os monstros, a luta é muita intensa, morrem muitas pessoas inocentes, fico triste ter que matar os seres, não gosto disso, mas entre morrer e viver, temos que lutar pela vida.

         Quem sabe um dia acaba as mortes, a vida é muito preciosa para ser esperdiçadas com guerras.

         Enquanto conversavam sobre guerras, surge uma nave atacando-os com laser, ainda bem que Diana estava perto, ela usou os poderes de bruxaria para desaparecer com o filho e Khalil, transportando-os para outra dimensão.

         Caíram justamente em meio a guerra da idade média, a luta estava muito difícil, Diana só não se feriu justamente por ser uma bruxa, seus poderes lhe davam proteção.

         —Filho, entre com o seu pai nesse círculo, assim vamos ficar protegidos.

         Encontraram uma caverna abandonada para abrigar-se dos guerreiros e dos animais selvagens, era uma época difícil para se viver.

         A guerra estava cada vez mais complicada, seus poderes ajudavam na defesa, ela tinha domínio com a espada, seu esposo e filho possuíam armas a laser

        Tinham que tomar cuidado para usar o laser, caso contrário eram tachados de bruxos, e bruxaria os levaria a pena de morte na fogueira. Nessa época os bruxos eram queimados em fogueiras.

         Khalil dizia a Diana e ao filho, que ficassem sempre juntos, assim não correriam o risco de se perderem no tempo.

         Acabando de sair da caverna, perceberam a chegada de um grupo de guerreiros a caça deles, um deles pegou seu filho deixando Diana em desespero, mas  Khalil foi rápido com a arma a laser acertando o guerreiro que caiu sem vida, ainda bem que essa arma não faz barulho, pensava Khalil ao abraçar o seu filho e Diana, tiveram que esconder o corpo  do guerreiro para que os outros homens não os descobrissem, foi um sufoco escapar do grupo de guerreiros.

           Diana precisava que eles voltassem ao tempo atual, não dava mais para ficar nessa guerra, estava cada dia mais difícil, o povo era bárbaro, matavam sem motivo.

.         Ficaram quatro anos nesse tempo de guerras por territórios, foi um período de lutas para sobreviverem, mesmo com a tecnologia que eles possuíam, dava para sentir a necessidade do conforto e a paz em que cresceram.  O tempo não passava, não existia energia elétrica, mas seu esposo conseguiu improvisar algumas tecnologias dessa época.  Entre muitas lutas, conseguiram voltar para a cidade de Brotas através do pingente de Diana, ao chegar notaram que tudo estava diferente, questionavam o que tinha acontecido, será que programei uma época diferente?

           Diana foi procurar seus pais e pedir uma explicação, como os bruxos não envelhecem, e o tempo é variado, eles estavam com a mesma aparência, mas a época havia passado mais de duzentos anos, suas amigas de escolas, e todos os conhecidos já haviam falecidos.

          Seus pais sentaram no sofá que compunha sua imensa sala, começaram a narrar toda a história que se passara na cidade enquanto eles estiveram fora, surgiu boatos que sua filha e seu neto, haviam sido sequestrados pelos monstros que invadiram a Terra.

          Foi uma batalha terrível, morreu muitos terrestres, e nós só sobrevivemos por sermos bruxos, caso contrário não estaríamos aqui para contar a história.

          Fiquei pensando que vocês tinham se mudado para Orion, mas como tivemos ajuda do seu povo extraterrestre, tivemos a certeza de que não era para lá que tinham ido. Recebemos também a visita de seus pais, queriam notícias sua, contamos que estávamos preocupados com a nossa filha e nosso neto que tinham desaparecidos em meio a luta. Eles nos afirmaram com certeza de que vocês estavam juntos, que seu filho daria um jeito de salvar sua filha e seu neto.

         A cidade estava calma, tudo se encontrava em paz, nem parecia que houve uma guerra no momento de nossa fuga, percebi a beleza do amor pelo pai de meu filho, resolvemos nos casar em uma união nos costumes dos Wiccas, tendo a certeza de que assim seríamos felizes para sempre.

         Construímos uma vida saudável, fomos morar em uma das fazendas de meu pai, assim continuamos com os treinos de espadas, podíamos também praticar nossos rituais de bruxaria, e receber a visita de seus pais extraterrestre na fazenda, sem interferência de pessoas estranhas.

          Nosso filho cresceu forte e saudável, a nossa preocupação seria uma companheira para ele, que compreendesse a nossa vida de extraterrestre e de bruxa, mas isso só o tempo irá responder.

Inêz Lourenço

sábado, 1 de janeiro de 2022

 

Trabalhador brasileiro

Poema em homenagem ao trabalhador

 

Cândido, homem forte, semblante cansado,

Não pelo trabalho árduo do dia a dia,

Mas pelas marcas que a vida lhe deixou;

Com a perda dos pais ainda menino,

Explorado pelo tio no trabalho da carvoaria.

Todos os dias olhava para o céu e dizia:

—Deus, onde estais que não me ouve?

Até quando vou aguentar esse trabalho?

E assim os dias transcorriam...

O tempo passou... Seu tio faleceu;

Sem herdeiros, para o único sobrinho, a carvoaria deixou.

Não sabia administrar, continuou a trabalhar,

Até que resolveu, a carvoaria trocar,

Por uma casa na cidade, onde pudesse morar.

Sem experiências na vida, logo sem casa ficou.

Dormindo na rua, se alimentando de lixo,

Saudades do tio apertou...

Meu trabalho era difícil, mas nunca me faltara casa e nem comida!

Meu Deus, me perdoa pela insanidade da reclamação!

Agora percebo, o quanto me deu proteção!

Foi aprender no dia a dia, ser operário de construção!

Já com a vida remediada, casa comida fartada;

Um amor ele encontrou.

Laura, moça bonita e prendada,

Um lar feliz ele formou,

Hoje conta sua história aos filhos, que trabalho é digno, não importa o que faças,

Desde que seja de coração, do simples faxineiro, ao doutor na profissão!

Inêz Lourenço

 

Mãe

Mulher frágil e delicada em alguns momentos!

Ser capaz de se transformar em uma fortaleza,

Quando se trata de defender suas crias.

Quando o percebe sendo agredido no físico ou na moral,

Ela aparece como uma leoa, na defesa da cria.

Todo filho em perigo;

É a essa mulher que ele recorre:

—Mãe, você é o meu mundo, o meu céu, o meu universo!

Quantas vezes me acalentei em seu colo?

Quantas lágrimas enxugastes do meu rosto?

Quantas vezes me consolastes nos momentos de derrota?

Não sei, mãe! Já perdi a conta durante esta existência!

Mãe, se não foste por ti, acho que o mundo seria cinza!

Foste tu, mulher! Que me mostrasse o sentido da verdadeira vida!

Me ensinastes o verdadeiro caminho a percorrer...

Uma vida plena de amor e flores.

Uma vida de harmonia e paz na alma!

Me destes força para vencer minhas batalhas,

Que não foram poucas, mas com vitória em todas elas!

Mãe, me ensinaste a conhecer o verdadeiro” Deus” que habita em todos nós,

Me ensinasse o poder do amor e da fraternidade!

Me ensinaste o sentido da palavra” GRATIDÃO”!

Mãe! Quero poder passar aos meus filhos o pouco do muito que me ensinaste!

Digo pouco, porque nunca teria a capacidade de passar tudo o que me ensinaste!

Não com a mesma técnica que me passasse nos momentos mais difíceis de minha vida!

Mãe, onde quer que esteja nesse infinito Universo, tu foste a melhor professora, médica, enfermeira, advogada, arquiteta, consultora financeira, chefe de cozinha, psicóloga, mestra na espiritualidade, arrumadeira, nutricionista, passadeira, agrônoma, economista, etc...

Mãe, tu foste a melhor de todas as mulheres, acredito que todos os filhos que tiveram uma educação semelhante à minha, terão orgulho de suas mães!

Inêz Lourenço

quinta-feira, 9 de dezembro de 2021

Calcinha Listrada

 

Simplesmente bela!

 


Deparo-me com uma pequena flor, em meio ao cimento da calçada, que separa o muro de minha casa com a rua.

Ela está tão sozinha como me sinto nos últimos tempos.

Uma flor que mostra sua beleza, independente da simplicidade do local.

O que essa flor gostaria de dizer aos transeuntes que por ali passam?

Fiquei horas refletindo sobre sua beleza e simplicidade, mas permanecia ali firme, intacta em um local onde ninguém se atreveria a permanecer por algumas horas, quem diria uma vida?

Como resistir durante um sol escaldante, chuvas torrenciais, que não avisam o momento de sua chegada?

Fiquei horas contemplando essa flor, queria descobrir a mensagem que estava querendo enviar aos contemplantes de sua beleza.

Escolheste a calçada de minha casa, onde tudo é humilde, desde o muro sem reboco, uma calçada muito mal acabada.

Ela estava ali firme e bela.

Sentia como uma deusa dessa rua. Sua beleza era contagiante que passei horas a contemplar, esquecendo nesse momento minha situação de miséria.

Era isso que ela queria me passar, a beleza não está no luxo, mas na simplicidade das coisas.

Tudo se torna belo, quando a alma se eleva na beleza de uma flor!

Inêz Lourenço

Duas mulheres em uma só


 

Bela e formosa donzela,

O casamento a transformou,

De dia, prendas do lar,

Na noite, mariposa do bar.

 

Seus afazeres   do dia,

Tinha muita determinação,

Carinho e muito cuidado,

Demonstrava sua afeição.

 

Seu esposo dedicado,

No trabalho concentrado,

Nem imaginava na esposa,

A grande transformação.

 

Os dias se transcorriam,

Até que um amigo falou:

De dia sua esposa é dama,

A noite é a mariposa na lama.

 

Seu coração apertou, não podia acreditar,

Resolveu tirar a limpo, um disfarce elaborou,

No encontro com a mariposa,

A sua esposa, encontrou.

 

Os dias foram passando,

E seu amor aumentou,

Pela esposa meiga e bela,

Do seu amor, nada sobrou.

 

Enfeitiçado de amor,

Por essa dama malvada,

Em uma briga, ele entrou,

Mas quem levou a facada

Foi a mariposa da noite.

Que na calçada ficou.

 

Na triste lápide, os dizeres:

 “Descanse em paz, amada lady,

seu esposo, por ti chora”,

Enquanto na terra fria,

 a mariposa da noite,

permaneceu na poesia!

Inêz Lourenço

Cabelos grisalhos

 

               

Olhando para o espelho, pude perceber o quão rápido passou a vida,

Da pele aveludada, só restou saudades, olhos arregalados pelo espanto,

Não por ver outra pessoa no espelho, reconheço os meus traços.

Traços moldados pelo tempo, pelas lutas, e pelas esperanças.

Vejo nos olhos a alegria de um dever cumprido, de sonhos realizados,

De filhos criados com amor e carinho, dos netos abençoados.

A vida passou como magia, não perdi tempo com decepções!

Envelheci sem medo e com esperança de uma donzela.

Amada e independente em minhas realizações,

Sem medo de errar ou acertar a cada passo dado.

Aventurei-me em todos os momentos de insanidade juvenil,

Atualmente sou meio senil, mas sem medo de prosseguir em meus atos,

Ainda tenho muito para viver, quero a independência por completa,

Ninguém me dizendo que sou velha para isso ou aquilo, nasci livre!

Como um pássaro fora da gaiola, como uma águia desbravando as alturas,

Quero olhar para o céu e dizer: Vivi como uma deusa!

Na imensidão do universo, posso dizer:

Tive o mundo em minhas mãos, pude fazer as escolhas de minha vida!

Em nenhum momento tive medo das dificuldades impostas,

 Elas me moldaram para uma vida de sabedoria e vitórias.

Cada ruga em meu rosto, trás uma história.

As mãos enrugadas, são marcas de uma vida com muitas lutas!

Se morrer agora, estou feliz! Vivi como se deve viver um ser humano,

Com derrotas; mas muitas vitórias conquistadas,

Morrer, dormir ou sonhar, quem sabe?

                    Inêz Lourenço